O Seu Neto Tem Seis Anos: Uma Desconhecida Me Para na Rua, Mas o Meu Filho Desmente

Estava a voltar do trabalho, cansada como sempre, mergulhada nos meus pensamentos sobre o jantar e a reunião do dia seguinte. De repente, ouvi uma voz atrás de mim:

Desculpe! Beatriz Martins?

Virei-me. Uma jovem estava à minha frente, com um menino de cerca de seis anos. O tom dela era hesitante, mas o olhar, firme.
Chamo-me Inês disse ela. E este é o seu neto, o Tomás. Já tem seis anos.

No início, pensei que fosse uma brincadeira de mau gosto. Nem ela nem o menino me eram familiares. A surpresa deixou-me confusa.
Desculpe, mas deve estar enganada? consegui dizer.

Inês continuou, com segurança:
Não me engano. O seu filho é o pai do Tomás. Guardei silêncio durante muito tempo, mas acho que tem o direito de saber. Não quero nada. Aqui está o meu número. Se quiser conhecê-lo, ligue-me.

E, deixando-me estupefacta, afastou-se. Fiquei parada no passeio, a apertar o papel na mão, os dedos tensos. Corri para ligar ao Tiago, o meu único filho.

Tiago, já namoraste com uma tal Inês? Tens um filho?
Mãe, por amor de Deus Foi coisa rápida. Ela era esquisita, depois disse que estava grávida. Nem sei se era verdade. Depois desapareceu. Duvido que seja meu filho.

As palavras dele deixaram-me perturbada. Por um lado, sempre acreditei nele. Criei-o sozinha, a trabalhar em dois empregos para lhe dar uma vida melhor. Ele tornou-se um profissional respeitado, mas nunca formou família. Já lhe tinha falado muitas vezes de ter filhos, sonhando em ser avó. E agora, do nada, aparecia um neto.

No dia seguinte, liguei à Inês. Ela não pareceu surpresa.
O Tomás tem seis anos. Nasceu em abril. Não, não vou fazer nenhum teste. Sei quem é o pai. Separámo-nos durante a gravidez. Não contactei o Tiago antes porque me safei sozinha. Os meus pais ajudam-me. Estamos bem. Só vim por causa do Tomás: ele merece conhecer a avó. Pode, se quiser, fazer parte da vida dele. Se não quiser, compreendo.

Desliguei e fiquei em silêncio durante muito tempo. Por um lado, não podia ignorar as dúvidas do Tiago. Por outro, tinha visto no olhar do Tomás algo familiar. O sorriso. Os gestos. Ou seria só o meu desejo de ser avó?

Nessa noite, olhei pela janela, a lembrar-me das manhãs em que levava o Tiago à escola, dos nossos jantares juntos, do primeiro dia de aulas dele. Terá ele abandonado mesmo uma mulher grávida? Ou aquele menino não seria filho dele?

Ainda assim, senti um calor estranho ao pensar no Tomás. E uma raiva de mim própria por ter dúvidas. Não tinha exigido provas quando o Tiago nasceu. Porque as exigiria à Inês? Porque não podia simplesmente acreditar?

Não tomei nenhuma decisão. Não voltei a ligar. Mas sempre que passava naquela rua, olhava para os rostos à procura deles. Não sabia se o Tomás era mesmo meu neto. Mas não conseguia esquecê-lo. O sonho de uma avó não morre assim tão fácil. Talvez um dia, eu marque aquele número. Só para conhecer o menino que me chamou “avó”.

Às vezes, a família não é uma questão de sangue, mas de coração. E aceitar o desconhecido pode trazer-nos as melhores surpresas.

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