Casou-me aos oitenta anos.
Quando a minha neta me expulsou de casa porque, aos oitenta, decidi casar de novo, percebi que não podia tolerar tal humilhação. Com o meu novo marido, Eduardo, arquitetámos um plano audaz para lhe dar uma lição que nunca esqueceria. Aquele conflito mudou a nossa família para sempre.
Nunca pensei contar esta história, mas aqui estou. Chamo-me Amélia e, esta primavera, completei oitenta anos. Vivia num quarto acolhedor na casa da minha neta, Beatriz. Era pequeno, mas fiz dele o meu refúgio: enchi-o de fotografias, livros antigos e recordações da minha vida.
“Bom dia, avó,” disse Beatriz uma manhã, entrando apressada sem bater.
“Bom dia, querida,” respondi, enquanto arrumava a cama. “Para onde vais com tanta pressa?”
“Vamos ao jardim com os miúdos. Precisas de alguma coisa?”
“Não, está tudo bem. Divirtam-se.”
Fiquei sozinha, saboreando o silêncio. Naquele momento, lembrei-me de tudo o que tinha sacrificado por ela: vendi a minha casa para pagar os seus estudos depois dos seus pais morrerem num acidente de carro quando ela tinha apenas quinze anos. Acolhi-a e criei-a como se fosse minha filha.
Depois, conheci Eduardo num centro cultural: charmoso, sempre com uma máquina fotográfica ao pescoço. As nossas conversas tornaram-se o meu encontro semanal favorito. Tinha recuperado o sorriso, a leveza da juventude.
Uma tarde, com Beatriz em casa, decidi contar-lhe a novidade. Encontrámo-nos na cozinha, ela folheava um livro de receitas.
“Beatriz, tenho algo para te dizer,” comecei, com o coração aos saltos.
Ela ergueu o olhar: “Diz, avó.”
“Conheci alguém. Chama-se Eduardo… e pediu-me em casamento.”
Ela ficou petrificada: “O quê? Casar? Mas… tens oitenta anos! E ele não vai morar aqui.”
Fiquei perplexa: “Por que não? Há espaço de sobra.”
“Esta é a nossa casa. Precisamos de privacidade.”
As minhas súplicas não a comoveram. Na manhã seguinte, encontrei as minhas malas à porta.
“Beatriz, o que estás a fazer?” perguntei, com lágrimas nos olhos.
“Desculpa, avó, mas tens de ir embora. O Eduardo pode acolher-te.”
A dor foi profunda: depois de tudo o que fiz por ela, atirava-me para a rua. Liguei ao Eduardo, furioso:
“O que ela fez? Faz as malas, vou aí já.”
“Não serei um fardo para ninguém,” murmurei.
“Não és um fardo, és a minha esposa. Ponto final.”
Saí sem olhar para trás. Em casa do Eduardo, encontrei calor, carinho e bondade. Começámos a planear o casamento, mas a ferida não sarava.
“Vamos dar-lhe uma lição,” prometeu Eduardo. “Ela tem de aprender o que é respeito.”
Eduardo, fotógrafo profissional, teve uma ideia: Beatriz era apaixonada por fotografia e todos os anos participava num encontro dedicado à arte. Ele enviou-lhe, anonimamente, um convite especial.
Primeiro, porém, casámo-nos em segredo, numa cerimónia íntima. Eduardo tirou uma série de fotografias lindas: eu, de vestido branco, radiante, cheia de amor. Aquelas imagens contavam a minha segunda juventude.
No dia do evento, Beatriz sentou-se na plateia, alheia a tudo. Nós esperávamos nos bastidores. O apresentador chamou Eduardo ao palco para mostrar o seu trabalho. No ecrã, surgiram as fotos do nosso casamento: a alegria, a autenticidade, a luz nos nossos olhos.
Eduardo pegou no microfone:
“Encontrei o amor aos oitenta e nove anos. A idade é só um número. Amélia, a minha linda esposa, prova que o coração permanece jovem.”
A plateia murmurou, comovida. Levantei-me e aproximei-me do microfone:
“Boa noite. Quero falar de sacrifício e gratidão. Quando os pais da Beatriz morreram, vendi a minha casa para lhe dar um futuro. Criei-a com amor, mas ela esqueceu-se do que é respeito.”
As minhas palavras ecoaram na sala. Virei-me diretamente para Beatriz:
“Vou amar-te sempre, apesar da dor. Mas tinhas de entender o valor do respeito.”
As lágrimas dela começaram a cair. Eduardo acrescentou:
“Partilhamos esta história para mostrar que amor e respeito não têm idade. A família deve apoiar, não julgar.”
A sala explodiu em aplausos. Depois do evento, Beatriz aproximou-se de nós:
“Avó… Eduardo… perdoem-me. Errei. Posso reparar?”
Abracei-a: “Claro, minha querida. Amamo


