**Primeira Impressão**
Mãe, esta é a Mariana disse Rodrigo, com um constrangimento visível, apresentando a jovem que trouxera para casa a uma hora tão avançada.
Boa noite respondeu Helena, medindo a visitante inesperada com um olhar desaprovador. Que hora encantadora para apresentações! Meia-noite em cinco minutos
Eu avisei o Rodrigo que era tarde defendeu-se Mariana de imediato. Mas ele me ouvia? Teimoso que só ele!
*”Bem jogado”,* pensou Helena, amargurada. *”Justifica-se e ainda o pinta como tirano. Essa rapariga não cai bem.”*
Entrem suspirou, antes de se retirar para o quarto sem outra palavra.
O que poderia fazer, afinal? Expulsar o único filho no meio da noite? Por causa de uma desconhecida? Se queriam viver juntos, que fosse. Uma mãe está ali para proteger o filho e abrir-lhe os olhos. E Helena faria isso depressa. Rodrigo mandaria a namorada de volta de onde veio, sem remorsos. Até ficaria aliviado!
A noite inteira, Helena pensou num plano para livrar-se de Mariana.
Não, ela não se opunha ao casamento do filho. Aos trinta anos, já era hora de formar família.
Mas não com *ela!*
Primeiro, era bem mais nova. Prova de que tinha vento na cabeça.
Aquilo, uma esposa? Uma mãe? Dona de casa?
Depois, a atitude falava por si: aparecer na casa dos outros a horas impróprias, sem pedir desculpas! E ainda teve a audácia de acusar o filho querido sem motivo
E para piorar, passou a noite!
Era a primeira vez, ou um hábito?
Enfim. Helena, simplesmente, não gostava dela.
E mais cedo ou mais tarde, Rodrigo sentiria o mesmo.
Para quê perder tempo?
O plano tornou-se desnecessário.
A própria Mariana daria todas as chances de pôr as coisas no lugar.
O primeiro sinal veio de manhã.
Trancou-se no banheiro por uma hora.
Rodrigo, impotente, andava de um lado para o outro no apartamento, cada vez mais irritado.
Meu amor, o que há? perguntou Helena, com uma doçura exagerada. A rapariga está a preparar-se, quer agradar-te
Mas eu tenho que trabalhar!
Então bate à porta, explica que não está sozinha aqui sugeriu a mãe.
Seria constrangedor resmungou. Depois falamos. E tu, mãe, não vais chegar atrasada?
Eu? Não. Já estou pronta há tempos. Olha, fiz panquecas. Vem tomar o pequeno-almoço.
Nem me lavei ainda!
Azar, lavas depois. Por agora, não percas tempo come algo, precisas de energia para o dia.
Rodrigo sentou-se à mesa.
Foi então que Mariana saiu do banheiro, uma toalha na cabeça, brilhante.
Finalmente! exclamou ele, correndo para o espelho embaçado.
Lavou-se à pressa, barbeou-se rapidamente, engoliu uma panqueca em três bocados e, já à porta, gritou:
Até logo! Espero que se deem bem.
Rodrigo! chamou Mariana. Íamos buscar as minhas coisas hoje.
Vamos. Esta noite. Não te aborreças! A voz já ecoava nas escadas.
Helena levantou-se, fechou a porta atrás do filho, virou-se para Mariana e perguntou, seca:
Não tens vergonha?
Não respondeu a jovem, sorrindo. Deveria?
O Rodrigo vai chegar atrasado por tua causa!
Não vai. Certamente apanha um táxi. Não se preocupe, vai correr tudo bem.
Seja como for, lembra-te: não estás sozinha aqui. Se quiseres o banheiro uma hora de manhã, levanta-te mais cedo. Ainda bem que hoje não trabalho.
Não se repetirá disse Mariana, simplesmente. Desculpe.
Helena ficou boquiaberta. Esperava uma discussão, e eis que
Bom, está bem resmungou, dirigindo-se ao banheiro.
O primeiro objeto que viu foi um tubo de pasta de dentes, aberto enquanto o antigo ainda não acabara.
Mariana, por que abriste uma pasta nova?
Gosto mais desta.
Espero que tragas a tua? E o teu champô?
Claro, Dona Helena
E as tuas toalhas!
Vou trazê-las
Por mais que tentasse provocar uma briga, Mariana não mordia a isca. Concordava com tudo, acenava com educação, “tomava nota” das futuras obrigações.
Sem argumentos, Helena partiu para o ataque direto.
Por que vieste para cá?
O Rodrigo e eu, nós amamo-nos
Claro que o amas, um rapaz daqueles! Mas eu não entendo: o que é que ele vê em ti?
Não lhe perguntei
E os teus pais?
A minha mãe é costureira.
E o teu pai?
Nunca o conheci.
Entendo. Uma criança sem pai. E como pensas ser uma boa esposa para o meu filho?
Darei o meu melhor
Por mais que tentes, não vai resultar. O meu filho não te ama. Ele só acha que sim. Eu conheço-o! E nunca te casará! Por que o faria? Já te tens aos pés dele.
Ele ama-me murmurou Mariana, a voz trémula. Tenho certeza.
Estás a iludir-te. Achas que és a primeira?
Não mas isso não importa
Não importa? Vai fartar-se de ti numa semana! Não estás à altura dele! Inteligência, conheces?
Conheço. Mas aqui, a palavra é mal escolhida.
E porquê?
Tenho um diploma universitário.
E daí? Olha, miúda, volta para casa. Este não é o teu lugar. Tento explicar-te desde esta manhã, mas não queres ouvir.
Está bem, eu vou. Mas o que dirá ao Rodrigo? Ele não vai gostar.
Isso não é problema teu! Some e não voltes. Não és bem-vinda.
Helena surpreendeu-se com a própria crueldade. Nunca imaginara dizer tais coisas. As palavras ácidas saíam sem controle.
E Mariana?
A jovem olhava para ela, compreendendo perfeitamente.
A mãe estava com ciúmes. Mal se conheciam, e já o ódio fervia. E era só o começo
A porta da frente bateu: Rodrigo chegava mais cedo do que o esperado.
Já? irritou-se Helena, que contava ver Mariana desaparecer antes do seu regresso.
Deixaram-me sair! exclamou ele, alegre. Disse que tinha um assunto de família. Ouviste, Mari? *De família!*
Que assunto? rosnou Helena.
Vamos declarar a nossa união na câmara, depois buscar as coisas dela! Mari, apronta-te!
Helena, com o coração apertado, percebeu que perdera muito mais do que uma batalha talvez tivesse arruinado para sempre a sua chance de ser avó.


